A Cáritas
Brasileira Regional Norte II, a CNBB, a Repam, a CPT, o IPAR e outros organismos
da Igreja Católica no Norte realizaram, no dia 8 de fevereiro, o lançamento
regional da cartilha “Nas Trilhas do Enfrentamento ao Tráfico Humano” produzida pela Comissão
Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano. O lançamento
marcou o “Dia
Mundial de Oração e Reflexão Contra o Tráfico Humano" incentivado
pelo Papa Francisco.
A
programação foi realizada na sede da CNBB Norte II, em Belém (PA), durante a manhã do dia 8. Uma
caminhada, velas acesas, exibição de recortes de notícias, falas em memória de
vítimas do tráfico e de Santa Josefina Bakhita marcaram a mística que envolveu
os participantes em uma atmosfera de reflexão e motivação à luta contra essa chaga
social.
A coordenadora
da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, irmã Henriqueta Cavalcante, observou que
o tráfico é um crime silencioso e de pouca visibilidade, mas está muito
próximo das nossas realidades. Em geral, as pessoas não enxergam o problema que
se vale de vulnerabilidades como o desemprego, a fome e a falta de perspectivas.
“As redes
criminosas, os aliciadores têm uma proposta extremamente atraente que encanta
as pessoas. Principalmente aqueles e aquelas que estão em situação de
vulnerabilidade e que recebem uma proposta encantadora, como trabalhar em
empresas de modelo, nas escolinhas de futebol”, destaca.
A cartilha
lançada no Dia Mundial de Oração apresenta alguns dados sobre o tráfico de
pessoas, os conceitos, as modalidades e indicações de métodos para a sociedade
agir. As orientações são divididas entre o VER, O JULGAR E O AGIR, uma forma
das pessoas compreenderem o tráfico, identificarem os casos em suas comunidades
e tomarem as medidas necessárias para a prevenção ou denúncia.
Dom
Evaristo Spengler, presidente da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o
Enfrentamento ao Tráfico Humano e recém nomeado bispo do Estado do Tocantins,
destaca que a cartilha “visa conscientizar, animar e fortalecer as ações
existentes na Igreja, em conjunto com a sociedade civil e organismos envolvidos
nesta causa”.
O bispo
observa que desde a criação da Comissão, em 2016, a Igreja tem avançado nas
articulações para trabalhar a prevenção. Desse modo, a cartilha é vista como
mais “um instrumento para auxiliar no alerta, na conscientização e no
enfrentamento do tráfico. Deste modo, a misericórdia de Deus se torna visível e
o tecido da sociedade é reforçado e renovado”.
O tráfico em números
- De 2016 a
2019, o Disque 100 recebeu 10.633 denúncias de exploração sexual de
crianças e adolescentes, no Brasil. Dessas, 3.867 foram na região Sudeste,
3.119 no Nordeste, 1.474 no Sul, 1.196 no Norte e 956 no Centro-Oeste.
- Entre
2010 e 2019, 807 imigrantes foram resgatados do trabalho escravo,
principalmente no setor de confecções de costura. Nas últimas décadas, o Brasil
tem sido um importante destino de pessoas dos países vizinhos da América do
Sul, como Bolívia e Paraguai que vêm em busca de trabalho.
- Entre
1995 e 2021, quase 60 mil pessoas foram encontradas em situação de trabalho
escravo no Brasil. Na maior parte, essas pessoas tiveram que se deslocar de
suas casas em busca de emprego, mas há cada vez mais casos de escravização de
moradores da mesma região.
- Pela variedade de situações, não é possível traçar um perfil único das vítimas de tráfico humano. Mas o modo de produção, o machismo e o racismo são fatores que aumentam as chances de alguém se tornar vítima. Das 943 denúncias de exploração sexual contabilizadas pelo Disque 180 entre 2016 e 2019, 85,6% eram do sexo feminino e 48,4% das vítimas com idade informada tinham entre 12 e 17 anos de idade. Dos cerca de 2 mil resgatados no trabalho escravo, em 2021, 90% eram homens, 47% nordestinos, 3% autodeclarados indígenas, 17% brancos e 80% negros.
Fonte: Mapeamento do tráfico de pessoas no Brasil, volume 3 – Asbrad.