O papel
desempenhado pelas organizações da sociedade civil na promoção e garantia dos
direitos de parte considerável da população foi evidenciado no primeiro dia dos
Diálogos Amazônicos. Muitas vezes, as entidades são a porta de entrada para
serviços públicos e as grandes incentivadoras da organização das comunidades
para que tenham autonomia.
Da plateia,
Jesus Trindade, liderança do território quilombola Lago do Maracá, em Mazagão
(AP), retratou essa realidade ao apontar que sua comunidade vive sem energia
elétrica há mais de uma década, embora as torres de transmissão de energia
sejam vistas pelos moradores lá dos seus espaços.
Trindade
explicou que o território, hoje, conta com o apoio da Cáritas Brasileira para
acessar serviços públicos e se organizar. O trabalho é realizado pela Regional
Norte II (PA e AP) através do Programa Global das Comunidades da Nossa América
Latina.
A fala
chamou a atenção dos representantes do governo que se comprometeram a encaminhar
soluções. E ainda de Caetano Scannavino, coordenador da Ong Saúde Alegria, que
falou sobre resultados recentes de mobilização para levar o serviço para
comunidades que vivem o mesmo problema no oeste do Pará, onde a entidade atua.
A secretária
adjunta da Secretaria de Gestão e Inovação do Ministério da Gestão e da
Inovação em Serviços Públicos, Kathyana Buonafina, reconheceu essa relação
entre as entidades e as comunidades. “A região Norte sem vocês não teria
políticas públicas”, afirmou.
A Cáritas,
por exemplo, atua em diversas áreas com a finalidade de promover a vida para
além da ajuda humanitária. Elas estão distribuídas em áreas prioritárias como a
convivência com os biomas, o estímulo à economia popular solidária, a gestão de
riscos ambientais, a segurança alimentar, a equidade de gênero e o direito da
criança e do adolescente.
A secretária
executiva da Cáritas Norte II, Maria Ivanilde Silva, citou projeto recente que
envolve entidades com apoio do BNDES para promover o saneamento em escolas da
região do Marajó, onde o serviço é precário, apesar da abundância da água.
“A gente
aceitou fazer parte dessa parceria entendendo que somos nós que estamos lá. Às
vezes, a gente diz: aonde a sociedade civil organizada chega, muitas vezes o
governo não chega com suas políticas públicas. Isso é uma realidade”, enfatizou
ao explicar que a rede Cáritas também atua na organização das pessoas para que
elas atuem coletivamente em prol da dignidade.
Ivanilde
reforçou a importância do evento para ecoar essas realidades porque os grandes
empreendimentos realizados pelos governos ou com o apoio deles precisam
enxergar esses povos.
“É
inadmissível que o governo se junte com grandes empresas e corporações, apoiado
pelo grande capital de outros países, para pensar projetos pra Amazônia sem
pensar o povo que aqui habita. Hidrelétricas, hidrovias, isso tudo vai afetar
meu território pra atender o escoamento de produção. Nossa região não tem o
básico, direito à água e saneamento”, pontuou.
Segundo a organização, os relatos
dos Diálogos Amazônicos comporão um relatório a ser entregue aos oito
presidentes da América Latina que participarão, em Belém, da Cúpula da Amazônia,
na terça e quarta, 8 e 9 de agosto. Os dois eventos são preparatórios para a 30ª Conferência das
Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30),
em 2025.