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IV Grito das Águas reúne 42 comunidades das ilhas de Abaetetuba na comunidade São José Vilar.

Projetos

Cerca de 500 pessoas das ilhas de Abaetetuba (PA) denunciam ameaças aos seus territórios por empreendimentos instalados sem consulta prévia.

Publicação: 27/03/2023



Cerca de 500 pessoas de 42 comunidades das ilhas de Abaetetuba (PA) participaram do IV Grito das Águas, no porto Igarapé Areia, localizado na comunidade São José Vilar. Eles denunciaram as ameaças sofridas pelos seus territórios a partir do momento em que empresas se instalam, ocupam os rios e modificam os espaços de onde eles retiram os alimentos e o sustento. Para esses povos, os impactos da atividade econômica internacional representam a morte. A mobilização é realizada pela Cáritas Rainha da Paz, entidade membro da Cáritas Brasileira Regional Norte II.

O Grito das Águas teve como tema “Água sagrada. É direito. Não mercadoria”. Participaram pescadores, agricultores, homens, mulheres, crianças, jovens e idosos, todos moradores de comunidades ribeirinhas e quilombolas que têm seus modos de vida baseados na relação com os rios e a floresta.

É pelos rios que os moradores transitam e pescam. Nas águas que sobem e descem também tomam banho e as crianças brincam. É na floresta que coletam os alimentos plantados, entre frutas, verduras e legumes. É na mata que caçam os animais que completarão a dieta alimentar das famílias.

Andrei Leal, estudante e pescador, aponta o dia a dia dos ribeirinhos que está ameaçado.

"A nossa relação com a água é desde criancinha, desde que nascemos. Nós moramos na beira do rio. É de lá que nós tiramos nossos alimentos através da pesca. Tiramos o peixe pro dia a dia. Tiramos pra venda que é pra ter o sustento financeiro. Nós temos essa relação com a água de cuidar, de preservar. Em cada período é um tipo de pesca pra que a água e a vida vá melhorando", diz Andrei Leal (foto), estudante e pescador da comunidade quilombola do Rio Açacu.

Mas esse modelo de desenvolvimento está ameaçado, segundo relatam. Durante toda a manhã, o Grito foi palco de diversas falas sobre a riqueza representada pelos rios e a insegurança quanto ao futuro por causa dos empreendimentos. Muitos contam que os impactos já existem, mas podem ser piores, expulsando as famílias de vez.

"Nós temos o nosso casquinho, a nossa rabeta pra andar nos rios, visitar nossos parentes e, principalmente, fazer esses movimentos pra defender a nossa cultura, nosso modo de sobrevivência de muitos e muitos anos _como nossos ancestrais viveram_ e nos livrar desses grandes projetos que vêm dizendo que vão trazer progresso, mas nunca. Eles vêm trazer progresso sim é pro capitalismo, pra pessoa que já tem muito, até demais. Querem matar nosso modo de sobrevivência", adverte Andrei.

Comunidades precisam ser consultadas antes de qualquer empreendimento

Os moradores das ilhas questionaram a permissão pública para que os empreendimentos se instalassem no passado e continuem se instalando sem que os territórios fossem ou sejam consultados. No entendimento dos povos ribeirinhos e quilombolas, o mercado internacional de minérios de ferro e grãos está sendo priorizado, em detrimento da vida nesses espaços.

Segundo a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, as comunidades tradicionais têm direito à consulta prévia, livre e informada antes que qualquer empreendimento seja implantado. É deles a decisão sobre a instalação ou não e também cabe a eles dizerem como querem ser consultados pelo Estado.

Na avaliação dos moradores, os governos estão descumprindo a Convenção e priorizando o mercado internacional. "A água vira mercadoria quando as nossas terras estão sendo vendidas. Por que as empresas estão querendo tomar conta? É por causa da água também. Ela é sagrada. Às vezes, as grandes empresas compram e poluem. Ela virando mercadoria, tá valendo mais do que nós", diz a professora Leidiane, da comunidade Nossa Senhora do Guadalupe.

Leidiane Ribeiro, professora, comenta a transformação da água em mercadoria.

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