O encarregado de projetos para o Brasil da Cáritas França,
Walter Prysthon, e a assessora nacional da Cáritas Brasileira, Cristina dos
Anjos, visitaram as áreas de produção agrícola de famílias apoiadas pelo
projeto “Nhandereko há”, na Diocese de Bragança. Nessa área do nordeste do
Pará, a experiência dos quintais produtivos tem gerado a diversificação das
espécies, o consumo de alimentos saudáveis, a geração de renda e a autonomia
das comunidades tradicionais.
Acompanhados pela coordenadora do projeto Içá Ação e
Proteção, Keila Giffoni, pelo assessor da Cáritas Brasileira Regional Norte II,
Edson Matos, e pela articuladora local na Cáritas Diocesana de Bragança, Graça
Ramos, Walter e Cristina tiveram a oportunidade de conversar diretamente com os
agricultores sobre o trabalho desenvolvido. Nos quintais das famílias, vêm
sendo cultivadas espécies diversas, para uso alimentar e medicinal.
O plantio é feito sem uso de agrotóxico e obedecendo as
técnicas para ter uma produção diversificada nas comunidades do Urupiuna e
Jararaca. A produção é voltada ao consumo familiar, com excedente vendido na
Feira da Agricultura Familiar realizada uma vez na semana, há catorze anos, no
centro da cidade de Bragança.
A feira tem se tornado um espaço de venda, mas também de
discussão e formação de sujeitos de direitos que lutam em torno do bem viver,
valorizando a produção orgânica saudável. A expectativa é que ela se torne
ainda mais regular e experiência positiva de organização dos produtores.
O representante da Cáritas França considerou a visita
importante e explicou que está sendo encaminhada a discussão para a
continuidade do projeto, em uma nova fase. A intenção é incluir o Regional
Norte III, do Tocantins, onde está sendo desenvolvido trabalho para desenvolver
uma rede de guardiões ecológicos.
“É uma proposta que vem somar a esse caminhar conjunto. A
gente escutava da importância que esse projeto teve pra fortalecer a
articulação da Cáritas e a gente pensa que isso realmente é fundamental, contar
com recursos necessários aos serviços das comunidades”, disse.
O Bispo coadjutor de Bragança, Dom Raimundo Possidônio, também
se comprometeu em discutir o projeto e sua importância dentro da Diocese para
que os quintais produtivos sejam replicados nas muitas paróquias diocesanas.
Fortalecimento institucional - Para a assessora
nacional da Cáritas Brasileira, o impacto da parceria é evidenciado pela
multiplicação das entidades locais e consolidação dos projetos. “Hoje, nós
temos várias Cáritas organizadas, temos uma articulação das Cáritas na região,
temos muitas Cáritas paroquiais que foram criadas nesse período e também já
projetos junto às comunidades já em processo de consolidação que tem
acompanhamento de longa data das Cáritas locais”, aponta.
“Hoje, podemos dizer que a Cáritas na região Norte é uma
Cáritas fortalecida, organizada, integrada com outras pastorais, com outras
redes. É uma Cáritas que, de fato, faz a diferença aqui na região e a gente
pode dizer que é graças a esse apoio fundamental que nós tivemos, durante todos
esses anos, da Cáritas da França”, completou.
Amazônia - Walter também considerou importante o
tempo de trabalho conjunto entre a Cáritas Brasileira e a Francesa, com
prioridade na região amazônica e no protagonismo das comunidades. O foco se
deve às ameaças sofridas pelas comunidades, populações ribeirinhas, quilombolas
e povos indígenas diante de projetos de “desenvolvimento”.
“Então, na finalidade do que o Papa Francisco nos convoca,
na Laudato si, nós viemos aqui dizer do nosso apoio à Cáritas do Inter Regional,
à Cáritas Brasileira, à Cáritas do Regional Norte II, pra todo esse trabalho de
recuperação e defesa dos direitos das populações”, reforçou.
Walter ainda esteve em áreas de projetos financiados pela
Cáritas França em Porto Velho (RO), onde é desenvolvido trabalho junto às populações
indígenas que vivem a vulnerabilidade nas cidades, e no Amazonas, onde é
realizada parceria com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Olhando para ações que podem ser replicadas
No Pará, os alagamentos causados pelas chuvas associadas às
cheias dos rios, em um movimento que estudiosos vêm considerando como efeito
das mudanças climáticas, impediu a ida ao território quilombola do Abacatal.
Para Walter, a experiência com adoção de um protocolo comunitário de consulta é
uma “novidade política” que pode ensinar outros países.
Ele explicou que a Cáritas França é uma organização bastante
importante naquele país, com uma trajetória semelhante à Cáritas Brasileira,
“de inserção nas comunidades, recebendo mandato da Igreja católica pra
significar solidariedade da sociedade com os mais vulneráveis”.
No país europeu, detalhou, estão trabalhando muito sobre o direito à alimentação de qualidade e a atenção aos numerosos migrantes. E, uma parte do trabalho é voltada à solidariedade internacional, sendo realizadas ações em oito países da América Latina.